quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Cogitações da Aeromoça: Imensidões

Caros passageiros,
       Hoje devo surpreender-los dizendo que não contarei sobre os recentes acontecimentos que tenho passado com vocês em pleno voo. Porém, relatarei a minha pequena trajetória no Capão/Chapada Diamantina, durante as férias. São apenas algumas reflexões internas que fui desenvolvendo durante as trilhas, espero que gostem.

Senhores passageiros, tenham uma ótima viagem!
Lembrem-se: apertem os cintos de segurança e em caso de emergência, máscaras de palavras sempre cairão!
IMENSIDÕES 


BRASIL - CHAPADA DIAMANTINA - Em: SERRAS DO VALE DO CAPÃO - 19ºC - 14h37min


Isso aqui é muito mais do que imaginava! – Retruquei em meus pensamentos.

Quando subi a serra para observar as montanhas da Chapada fiquei imaginando como seria esta sensação, porém, agora posso dizer que tudo que assisto, ouço e sinto é incrivelmente inexplicável. 

Foi um pouco cansativo seguir a trilha para alcançar este lugar, tinha bebido bastante água, e também havia escorregado em algumas pedras e barro. Por incrível que pareça demorei exatamente duas horas para chegar aqui, e isso tudo proporcionou uma grande conversa com os meus pensamentos que se condensavam ao admirar cada flor, folha, pedra e chão. A arte que respira ao meu lado fazia o favor de cantar nos meus ouvidos e o seu cheiro e forma fez lembrar a minha infância. Eu conseguia ouvir a voz de minha mãe:

- Menina, saia já dessa varanda! Vai logo tomar o seu banho, porque eu tenho que ver se sobrou algum espinho em suas mãos! - Um breve sorriso transpareceu no meu rosto.

Desde pequena adorava mexer com a terra, e por isso minhas mãos ficavam cheias de espinhos das flores. Mas agora, que posso me cuidar sozinha, não ouço mais os gritos dela e por costume, confesso dizer que sinto falta disso.

Neste exato momento os meus olhos começaram a vagar nas montanhas e a sua atuação era como a própria fênix em pleno voo, que ao seguir o seu rumo se queimava ao morrer por cansaço da velhice, para posteriormente renascer ainda mais belo e pleno. Neste meu mundo, agora cursa a saudade e a sua imensidão.

Fui em direção às plantas e com um movimento circular comecei a tatear sentindo cada linha de textura da folha.

- Mas que aperto no peito! – Cogitei em voz alta

Tudo isso oferece para mim uma maravilhosa nostalgia suprema, que apenas poderia ser quebrada por uma coisa: A fome! Rapidamente larguei a folha e abri a minha mochila para revistar o que tinha dentro dela. Lá se encontrava a minha garrafa, que por sinal a água já estava no fim, algumas barras de cereais, duas maçãs, um papel toalha dobrado e acessórios para me ajudar na trilha. Eu optaria por barra de cereais, mas como proporcionava sede e tinha pouca água para me ajudar na condução da volta, por falta de opção sugeri pegar aquela humilde maçã que implorava para ser mordida.

-Venha, sua linda. – Falei sozinha novamente

Fui procurar uma pedra mais alta, logo que a encontrei me apoiei nas pedras menores e sentei, dei a primeira mordida na minha maçã, e rapidamente uma trilha sonora passou em minha mente:

“Me resolvi por subir na pedra mais alta, pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta... Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto, olhos feito pérola, cabelo feito manto... O medo fica maior de cima da pedra mais alta, sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta...” 

Me pareço conchinha ou será que conchinha acha que sou eu?


[CONTINUA...]



Aeromoça Christine Almeida.

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